- Rafa Almeida
Entrevistas | Up Against Down

Assim escrevi ao resenhar “People That Come and Go”, single de estreia da Up Agains Down: “Num momento, estou em Niterói/RJ, numa manhã ensolarada de domingo. Ao colocar os fones, em instantes, fui devidamente transportado para a noite de Londres, ou Berlim, em plena década de oitenta!” E a sensação é exatamente essa. O encontro do orgânico e o eletrônico! E a coisa se dá de forma real, até palpável diria, quando embarcamos na viagem que é o som dessa banda carioca! Tem muito de Kraftwerk e experimentalismos de décadas passadas no som dessa galera! Mas também tem muito de anos oitenta, Pós-Punk! Bateu curiosidade? Em nós também!
O projeto surgiu há dez anos atrás. Rolou uma pequena pausa nas atividades e, em 2018, a Up Against Down estava de volta! E, em plena quarentena, chega até os fones do FMZ este single de estreia, “People That Come and Go”! E tamanha era a gama de influências legais que dava pra identificar no som da Up Against Down, que fomos trocar uma ideia com o, vocalista e multi-instrumentista, Ledd pra saber mais sobre esse projeto! Confiram o papo!
FMZ: Queria começar com um pouco da história da Up Against Down. Como se deu a ideia do projeto e quais bandas ou projeto vieram antes da Up Against Down?
Ledd: O projeto surgiu com a intenção de mesclar elementos antagônicos, fazendo uma contraposição entre a tecnologia musical moderna e sons vintage, com teclados em primeiro plano. A questão do tempo foi o tema abordado nas primeiras músicas, que fizeram parte do EP de lançamento.
Antes da Up Against Down, eu havia passado por outras bandas e projetos, tanto de Post-Punk como de outros estilos conexos. Durante essa época, gravei temas e registrei ideias que depois viriam a ser usadas na Up Against Down.
FMZ: Sobre o álbum que está por vir: em que qual estágio da produção o trabalho está? Já tem tudo gravado, arte pronta, enfim...? O que dá pra adiantar pra gente?
Ledd: As músicas estão sendo finalizadas em sequência, é um processo bem exaustivo, pois toco e gravo todos os instrumentos sozinho, além de cantar e fazer a produção. A única exceção é a bateria, que é gravada por um baterista convidado. A configuração para shows é diferente, com a presença da banda completa para executar os teclados, baixo e bateria.
Por enquanto, metade das músicas do álbum já está finalizada e as músicas restantes estão no processo de produção. Iremos lançar as faixas principais como singles ao longo de 2021 e o álbum completo está previsto para o final do ano.
FMZ: Apesar de muitos elementos eletrônicos no som, me parece que há uma necessidade de revisitar influências do passado, de ter elementos mais, digamos, orgânicos na Up Against Down. E parece que o trabalho em si é fruto desse conflito entre o moderno/digital e o orgânico/visceral. Confere?
Ledd: Com certeza. O conceito da banda é exatamente a contraposição não só de elementos sonoros, mas também de ideias, propondo uma reflexão sobre as nossas próprias contradições.
O nosso primeiro single desse novo trabalho, “People That Come And Go”, trata justamente desse tema, especialmente quanto à dificuldade na adaptação a uma realidade em constante mudança, onde as conexões se tornam cada vez mais frágeis. O sentimento de inadequação é substituído por uma integração cega a padrões recursivos, na qual repetimos as mesmas ações que nos prejudicam, tornando-nos ao final, simultaneamente, a vítima e o agressor. A letra se insere na temática da contraposição porque expõe o cinismo e contradição no comportamento nessa era digital.
FMZ: Ainda sobre a sonoridade da Up Against Down, queria saber quais artistas são, definitivamente, influências para o som do projeto. E também se dá pra traçar paralelos com outros projetos, com som semelhante, rolando atualmente, no underground carioca ou do Brasil, com quem dê para trocar figurinhas e dividir o palco futuramente!
Ledd: As maiores influências da Up Against Down vieram do Pós-pPunk/Gótico, Krautrock e Progressivo. Podemos citar Echo and the Bunnymen, Joy Division, Siouxie, The Cure, Bauhaus, Tangerine Dream, Neu!, Can, Kraftwerk, ELP, King Crimson e Bowie, entre muitos outros.
Tenho visto o surgimento de bandas brasileiras realmente incríveis dentro dessa linha musical, com certeza fico muito feliz em dividir os palcos com elas. Essa troca de figurinhas e a união em geral de projetos beneficia a todos.

FMZ: Os planos da banda dão conta de singles a serem lançados, o álbum no ano que vem e shows de divulgação. Com tudo que está acontecendo, como ficam as perspectivas de apresentar esse material ao vivo? E, ainda, como acham que estará o meio underground depois que, finalmente, a pandemia passar?
Ledd: Como a situação não está favorável para apresentações ao vivo, o tempo está sendo usado para a produção e divulgação das músicas. A perspectiva é retomar os shows assim que situação melhorar. Espero que seja logo! Acredito que o underground, assim como toda a indústria musical em geral, vai ressurgir com muita força depois que isso tudo passar, talvez mais forte ainda do que era antes.
FMZ: Valeu pelo papo! E pra encerrar, a pergunta que não quer calar: o que esperar do mundo pós-coronavirus?
Ledd: Espero que, pelo menos, essa tragédia nos faça repensar os nossos valores.
Confira “People That Come and Go” no Youtube:
Conheça a Up Against Down:
Ouça “People That Come and Go” no Spotify:
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Single “People That Come and Go” em Nos Fones.
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